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24 fevereiro, 2011

Encontro "Sobrenatural"

No meu primeiro post, uma das coisas que mais recebi feedback (não no próprio blog, diga-se de passagem), foi a mera citação de um encontro com uma criatura sobrenatural em um pasto. Minha programação inicial era falar a respeito bem mais tarde, mas já que tem gente curiosa querendo saber a respeito, vamos à história.

Como já mencionado aqui, eu venho de formação católica apostólica romana (é bom ser específico, como em quase todos os outros termos). Eu fazia parte de um grupo de adolescentes na igreja do meu bairro e as reuniões acabavam lá pelas 21:00h. Voltávamos todos juntos. Nessa ocasião em particular, estávamos voltando mais tarde por causa das famosas quermesses de igreja. Tudo bem que mais tarde para um moleque frequentador de igreja de 14 anos eram “absurdas” 00:00h.

No caminho de volta, tinha um pasto que não era um caminho obrigatório, mas era um corte de alguns minutos na caminhada. Estávamos em 5 meninos, da mesma idade. O primeiro parou, em choque, e disse ter ouvido algum barulho. Não me lembro se era nessa ocasião, que o mesmo brincava de “clamar as forças do mal” para ver se elas se manisfestariam - apagando um poste ou fazendo qualquer outra coisa imbecil - mas que para a gente, faria sentido. Mas mesmo assim, o tal parou e disse ter ouvido algo se mexendo no pasto, coisa que nenhum de nós tinha ouvido.

De repente, ele aponta à distância e nós vimos um cavalo ou vaca, aproximadamente uns 100 metros de distância. Só que ele jurava que aquilo não era um animal de pasto, e tentou apontar as características que os diferenciavam. Uma delas era o fato do bicho ser totalmente preto, sem indicação de mais nenhum detalhe em outra cor (é, isso era convicente, dã). O mais espetacular, foi quando um bando de moleques já assustado pela descrição do outro e tentando ver as mesmas coisas que ele (pra mim, ainda era uma vaca, mas eu era besta e estava assustado), correu amedrontado porque o tal bicho ficou em pé, sob duas patas e parecia ter quase três metros de altura. Ninguém ficou lá para tentar ver seu próximo movimento.

Eu peço desculpas se decepcionei quem esperava um relato mais detalhado dessa “experiência sobrenatural”, mas ela se deu dessa forma mesmo. Eu só a havia citado em meu primeiro post au passant, mas parece que ela gerou uma expectativa maior que as outras coisas que tenho vontade de falar.

Vamos agora à uma análise da situação: Cinco garotos de 14 anos, saindo de um encontro de igreja (o que já confere à eles um fator de credibilidade no sobrenatural), tendo como “líder”, um garoto que “adorava desafiar o desconhecido”. Não sei se todas as pessoas estão cientes, mas é mais fácil você ver qualquer coisa desconhecida sob a sugestão de outro, do que chegar a uma conclusão sozinho, afinal, existem fatores (luminosidade, distância, estado mental do observador) que dificultam uma análise séria. Ou seja, nós acabamos é “comprando” mesmo o que alguém fala, em uma escala diretamente proporcional à certeza de ter visto o que diz ter visto daquela pessoa que está descrevendo a visão pra gente.

Esse aspecto ocorre muito com visões de OVNIs, anjos, fantasmas e qualquer outro ser. Dentro desse contexto, é imenso o número de desmistificações dessas visões pela conclusão de coisas totalmente explicáveis. No meu caso em particular, eu era um garoto imbecil, impressionado pela descrição de outro, que provavelmente viu uma vaca deitada, que ao ficar de pé, a 100 metros de distância, pareceu ficar de pé sobre duas pernas. Ou mesmo um bêbado caído no chão que resolveu se levantar, mas como estávamos em um pasto, estávamos sugestionados a ver um bicho parecido com vaca e cavalo.

Uma coisa muito comum que comprova esse ponto, é que uma pessoa sob o efeito de uma droga alucinógena, acredita que está vendo coisas que seu subconsciente cria, mas se uma pessoa chega e começa a descrever coisas para ela ver, ela as verá, com a certeza absoluta de que estão lá. Se alguém me perguntar, SIM, eu já fiz isso com gente sob o efeito do LSD (essa história fica em outro post também). É maldade, mas não estou aqui pra dizer que sou uma pessoa boazinha o tempo todo.

Uma outra teoria interessante, sobre pessoas que veem sem nenhum tipo de influência de terceiros, ou seja, que experimentam sozinhas visões do sobrenatural, é que o nosso cérebro tem um arquivo visual da memória. Toda vez que vemos algo (aparentemente) sem um formato definido, nosso cérebro preenche as lacunas restantes com coisas que já conhecemos para que a visão seja menos “chocante”. É esse processo que nos permite ver formas em nuvens, ou aquele mais-do-que-desmentido rosto em Marte. Outro exemplo são as imagens de deuses e santos vistos em frutas, janelas com restos de produtos de limpeza e tantos casos mais.

Diferenciar a realidade de um simples ilusão de ótica é difícil, sob certas circunstâncias. Mas a maioria das pessoas tendem a acreditar que a visão de alguém é real, pura e simplesmente baseado em suas próprias crenças. “Eu sou cristão católico, então em acredito nas visões de Bernadette na gruta de Lourdes”. “Eu sou cristão evangélico e acho isso besteira, mas acredito que deus falou diretamente com meu vizinho e o curou de uma doença”. " Eu sou muçulmano, cristãos estão errados e alá me pediu para explodir todos e me dará 72 virgens no Paraíso", “Eu sou cientólogo, acho essas afirmações besteira, mas acredito em TODOS os relatos de OVNIs descritos até hoje”.

Para finalizar, como opinião pessoal, o que me trouxe ao ceticismo é perceber que a fórmula é bem mais simples, para nos livrarmos de falsas crenças e superstições. Basta que um número suficiente de pessoas apresente uma comprovação, que dados mensuráveis sejam colocados à disposição de quem quiser ver. E alguns podem até me dizer, que certas coisas não são mensuráveis, mas que a fé me indica o que é certo ou errado. Se for esse o caso, a fé é tão subjetiva quanto o intelecto e eu acabo acreditando no que eu tenho pré-disposição, oras. Se tudo que as pessoas acreditam com fervor deve ser levado a sério, porque trancamos em hospícios pessoas que afirmam com absoluta certeza serem a reencarnação de Napoleão ou de Júlio César?

Obrigado pela paciência, mais uma vez. Nos vemos no próximo post.

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